A VISITA

A primeira vez foi aos 3 anos de idade. Estava no meio da rua, de frente com uma coisa absurdamente assustadora para uma criança dessa idade: tinha parado com estardalhaço ao alcance da própria mão, era gigante, barulhento, quente e fedia muito. Muitos gritos, um flash... 
Aos 6 uma cobra numa toca se enrolava de forma estranha. Uma curiosidade obrigava a chegar mais perto pra ver o que era aquilo. Gritos novamente e um novo flash...
Aos 12, uma correnteza implacável impedia um grito de socorro. Muita água entrando pelo nariz e pela boca. Não foi possível ouvir gritos, nem ver o flash...
Aos 18, numa rua escura, fora vítima da violência local. No afã de conseguir algo que proporcionasse um prazer efêmero, usaram uma faca. Não escutou ou conseguiu dizer nada. E, mais uma vez, silêncio e escuridão...
Um estouro de pneu e uma total desorientação trouxe um flash em meio a gritos nos seus 25. 
Parecia conhecer este local. Parecia sempre estar lá. E sempre que ia, voltava com mais.
Mal tinha noção do que eram esses flashs, escuridões e visitas a lugares estranhamente conhecidos. Alguém comentou certa vez: "onde você vai? onde você estava? Fico com medo quando isso acontece com você". "Não sei" até hoje ainda é a resposta. 
Mas os flashes acabaram. As estranhas visitas acabaram. A escuridão e o silêncio acabaram. Também acabou o que mais lhe caracterizava. E então, veio a inatividade total.
Nunca mais ousou buscar o que sabia que lhe definia. Deixou pra trás a sua missão por covardia. Sabe que cada visita é um sofrimento. E depois tudo é um grande desconcerto. Amarrou-se ao solo firme, estavelmente perigoso. Não desejava mais as escuridões e o silêncio, a água e as desorientações. 
Sonha com os flashes sem desejá-los. E assumiu que fará isso mais uma vez apenas...

TIPO MOSCAS

Eu tava aqui pensando, depois de ser atazanado em plena madrugada por uma mosca grande, barulhenta, grudenta e muito insistente, sobre o que será que ela queria comigo.
Essas "mizéra" têm um ciclo de vida que dura em média 30 dias. Nascem como larvas, viram pupas, tornam-se moscas com asas e depois pluft! morrem.
Eu achei, depois de pensar às 6 horas da manhã, quando a maioria das moscas estavam acordando e nem ligavam pra mim, onde estaria aquela desgraçada que me "raulseixou" a noite toda.
Fiquei sonhando (6 da matina é a hora que vem meu sono, quem lê o blog ou me conhece pessoalmente sabe disso), que aquela mosca estava me pedindo socorro. É: socorro!
Imagine aí: uma mosca vive em média 30 dias né? Significa que, em 1 ano, você passou por 12 gerações da mesma família de uma determinada mosca. Se houvesse em nós consciência suficiente da consciência de uma mosca, que nos permitisse saber o que elas pensam de nós, talvez eu esteja errado, mas, também poderia acontecer que as moscas nos considerem deuses. Senão vejamos:
- somos imensamente grandes em comparação a uma delas;
- o que os tatatatata¹²³ravós delas contam a elas sobre um ser humano, deve causar impressão na maioria delas de que nós somos imortais.
- quase tudo que elas comem nós produzimos
Então, se há um ser perfeito, que provê a vida delas, sem se preocupar com a própria, somos nós humanos. E, ainda temos o poder de matá-las individualmente volta e meia. Um tapão ou coisa assim (esse deus aí castigou uma.) Quando, muitas delas morrem de vez, pode ser que elas rezem pra nós pra que as livremos de doenças, mesmo sem saber que nós espalhamos inseticida pela casa. Pode ser que elas se reúnam pra orar pra nós, pra que as livremos dos percalços nos ares, como os pega-moscas adesivos. Pode ser que elas gastem muita fé nos pedindo pra livrá-las do demônio na vida delas, e nós talvez, inconscientemente as façamos feliz quando matamos uma aranha ou espanamos as teias nos cantos da casa.
Sei lá. É muita loucura, eu sei. Mas eu pensei que aquela mosca me soube um superser, imortal, conhecido desde remotas gerações daquela mosca que me zuou e, sabendo da proximidade de sua morte, talvez tenha vindo me pedir socorro, pra que eu usasse meus poderes da imortalidade, da livração dos perigos, doenças e dos demônios de 8 pernas e provimento de alimentos, para fazê-la viver mais um pouco. Fico imaginando ela, ao final da vida gritando pra mim: "-Me salve, tenho1.800.000 filhas e netas pra cuidar! Faça alguma coisa, sempre fui sua devota, nunca pequei, nunca roubei, nunca menti, sempre respeitei meus pais, sempre fui uma mosca humilde e honesta, temente a você!" e pluft! caiu morta em algum lugar da casa ao alvorecer do dia e do meu sono.
Agora, releia tudo isso colocando-se no lugar da mosca e pensando em quem contará a estória da sua agonia pré-morte...

TÁ DE SACANAGEM NÉ?

E então, depois de muita insistência, resolvi que iria me matricular no vestibular só porque eu queria ir pra praia e ninguém queria ir comigo! "Comer água" num lugar diferente. Tinha como fazer isso na minha cidade (o vestibular e comer água), mas a graça seria fazer isso num local onde eu não fazia isso. Me inscrevi. E ainda tive um bônus: como as provas seria realizadas também na segunda feira, eu ainda teria direito a uma folga no trabalho - logo na segunda, cheio pra porra! O chefe com certeza iria ficar muito feliz...
Desde guri gostava muito de ler ficção científica. Acho que o primeiro livro foi lá na 5ª série: As sete cidades do arco-íris. Xisto no Espaço também passou por aqui. Júlio Verne foram vários, mas não todos. Lá na facul, quase toda a série Império, Robôs e Fundação do Asimov, além de alguns livros "fora de série" e alguns da série lucky starr (é assim que escreve?). Li mais alguns bons autores também, como o Orson Scott Card e o H. G. Wells.
Misture tudo isso a uma risada fácil. sou besta pra porra pra rir.
Então, sentado lá na hora da prova do vestibular, 15 anos depois de ter feito um pela última vez, 10 anos depois de ter me formado, topei com o tema da redação.
"Pirirí-pororó" encontraram um planeta parecido com a Terra. Astronomicamente perto daqui e talz. Crie uma redação dissertativa-argumentativa onde você se candidata pra ir morar nesse planeta e explicite qual será sua contribuição sócio-econômica, política e cultural.
Nesse momento, ri alto. Incomodei os outros candidatos e levei uma olhada da fiscal. Mas fazer o quê né? Lembrei de Danilo, Vagner, Charles e outros que liam FC. Enquanto eu deixava a mente procurar a melhor argumentação em minhas lembranças de livros de Asimov e Douglas Adams, fui fazendo o resto da prova.
Faltando alguns poucos minutos pra o fim do tempo de prova, fiz o primeiro rascunho. Resolvi não ser tão técnico quanto o Asimov, nem tão muito louco como o Adams. Fui  fazendo uma redação muito enlatada (como sempre), me sentido um verdadeiro pré-universitário. Até que, quando vi pronto o rascunho, faltando menos de 10 minutos pra acabar o prazo, percebi que estava tudo uma verdadeira merda. (kkkkkkkkkk)
Resolvi ler de novo e desdenhar de tudo que tinha escrito. Mas, nesse meio tempo, apareceu uma leve fumaça à minha direita e pareceu formar um rosto, um rosto fininho, com um óculos redondo. Então, John Lennon me disse: "-Véi, já escrevi essa redação antes. Pode usar a minha!"
Então eu disse: "-De boa!"
Peguei a canção do cara e fiz uma tradução em forma de prosa. Pode pegar a letra e traduzí-la: está tudo lá. É exatamente a resposta do tema da redação! Dei o crédito pro Lennon na redação, claro. Ele merece. E eu nem estava bêbado ou ressaqueado ainda. E acabei passando! Imagine...

DURA ATÉ ACABAR

Às vezes eu acho que há algum componente em determinados equipamentos eletrônicos que determinam qual será a vida útil deles. por exemplo:
1 - MOUSES: aparentemente, após alguns poucos meses, começam a não respeitar os cliques e arrastos que fazemos, nos levando a trocá-los. Abertos, nada de desgastado há. Mas, recolocados em suas conexões USB, voltam a falhar. Ou dão muitos cliques de uma só vez, ou não dão clique nenhum ou simplesmente soltam algum objeto arrastado antes que tenhamos tirado o dedo do botão.
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2 - LÂMPADAS FLUORESCENTES: diz-se que o número de vezes que elas são ligadas é que determina sua vida útil. Numa estatística muito particular, percebi que elas começam a ficar escurinhas com uns 10 meses de uso e, depois de 1 ano e algumas semanas elas simplesmente deixam de funcionar. Isso serve pra baterias de carro!
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 3 - CELULARES: num sei bem qual é o caso, mas acho que  eles nem precisam desse componente [muito embora, eu continue achando que eles possuem essa suposta "peça]. Nós que somos levados a querer um novo aparelho todo mês! Nesse caso, talvez a psicologia deva achar algum componente em nós que também atribua defeito às coisas em algum momento. Ou talvez já tenham achado e isso deva ser utilizado em marketing, de forma que "entremos nessa vibe" sempre que eles "disparam" essa característica de seres humanos consumistas na TV ou algum meio de comunicação de massa. Sei lá, vai saber.
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4 - Mini caixas de som/Fones de ouvido ou coisas assim: incrível a pequena duração desses equipamentos e, como sempre, depois de abertos, nada desgastado há e ainda assim, permanecem inválidos.
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5 - Relógios despertadores e mp3/rádios portáteis: incrível o tanto que pode-se encontrá-los pelas lixeiras. Aparentemente, campeões da curta duração sem motivo aparente.
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6 - Políticas de sustentabilidade das empresas: apenas um nome bonito, politicamente correto, que afasta os "chatos" que lutam pelo meio ambiente das preocupações dos dirigentes empresariais, mas ainda assim, uma forma de impulsionar o consumo.
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é... acho q esse ponto 6 é mais uma hipótese do que algo feito pra funcionar por um curto período de tempo. Quer dizer, considerando que a hipótese é minha [eu acho], a coisa "capitalista" inserida em tudo isso é a única que funcionará indefinidamente de forma perfeita. Em breve, o termo "sustentabilidade", vai ter seu período de duração finalizado, mas o consumo vai continuar; as formas de se fazer porcarias que nos satisfazem por cada vez menos tempo continuarão a se proliferar. A consciência sobre como vivemos nesse planeta é algo que também já foi pro saco faz tempo.
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E só pra num dizer que essa é uma simples reclamação minha, pensei nisso enquanto ia pro comércio comprar um mouse e uma lâmpada fluorescente depois de ter trocado a bateria do carro. Com excessão do mouse que durou apenas 3 meses, a bateria e a lâmpada duraram exatamente 1 ano. Nem deu pra reclamar...

ANO SABÁTICO?!

Não foi nada programado. Apenas passei todo este tempo sem ir ao cinema, teatro, show ou coisas que inspiram o lado artístico de qualquer um. Também não me lembro de ter um daqueles "sonho-filme" que eu tenho às vezes. Além do mais, cidade pequena é sempre a mesma coisa.
O que me moveu a estar aqui realmente foi o pedido de todos os meus 3 leitores...
Engraçado é que em 1 ano acotece coisa pra porra: porra nenhuma digna de nota aconteceu. Mas, se ao invés de filosofia, tivesse eu cursado sociologia, eu já teria criado uma tese sociológica muito louca só descrevendo o que acontece na minha vida diariamente, só no percurso casa-trabalho-bar.
Senão vejamos: em casa consegui ter quase 20% da minha audição diminuida pela potência pneumática de Alana. Nossa! Quanto choro estrondoso por tanto tempo! Mas é legal vê-la se desenvolvendo, aprendendo a falar e a se socializar. O que eu não contava é que, com tudo o que todo mundo dizia, sobre o ciúme da irmã mais velha, seria a própria Alana que se tornaria extremamente ciumenta e possessiva, tendo em contra-partida a condescendência de Larissa (que só nas últimas semanas parece dar mostras que já teve espaço demais invadido). Kleide continua me fazendo inveja conseguindo dormir sempre que quer...
No trabalho, o excesso de horas extras me fez desistir da minha antiga função e pedir pra descer de nível. Ser "orêa seca" tem sido muito bom. Tenho escapulido da fúria capitalista das pessoas que vejo religiosamente todos os dias. Não sirvo mais a eles. Não que eu não queira. Eu só servia pra eles quando era tratado como padre, psicólogo ou saco de pancadas pras suas frustrações e desorganizações pessoais travestidas de necessidades profissionais. A tese sociológica se aplicaria mais a essas pessoas, que, a despeito do desinteresse que agora eles me têm, eu ainda mantenho por eles. E o pior, é que dizem que é assim em todo lugar: interior, capital, da região norte até a sul, incluindo o Acre!
No bar, eu não me lembro bem de detalhes, mas tenho sido cada vez mais fanático por futebol. Quem me conhece sabe que, como diria Luka: "tow nem aí". Mas os rótulos deixam as pessoas tranquilas. Por exemplo: lá vem o torcedor do baêa... lá vem o torcedor do vasco... lá vem o cara que só bebe da verdinha... lá vem o cunhado de Tõi do Couro...
Eu gostaria de ter completado o percurso anterior: "casa-trabalho-bar-outra coisa", mas aqui é difícil. Contrariamente ao que diria o Renato Russo, "antes eu sonhava, agora já nem durmo", eu ainda continuo sem dormir (lembram disso?) e agora já nem sonho.
O que eu estou preparando pra minha vida agora é da maior importância: tentar ir pra cama cedo (dormir seria um sonho!), trabalhar pelo menos um mês sem fazer hora extra, lembrar de tudo no dia seguinte à visita ao bar pra ver o baêa ou o vasco jogando e dar um show pra uma turma de guris na escola onde Larissa estuda como comemoração ao dia dos pais.
A notícia mais ou menos, é que vou me esforçar pra manter um post por mês como eu fazia até a data do post aí de baixo.
E um Drea pra relaxar...